Influencer de beleza e esbanjando autoestima: veja como está a menina que nasceu com o corpo coberto de pelos
Dez anos depois de iniciar um tratamento para a hipertricose, uma síndrome rara que faz nascer pelos excessivos no corpo, a menina Kemilly Vitória Pereira de Sousa hoje é influencer de beleza e esbanja autoestima. O g1 acompanhou o início da história da Kemilly, na época com dois anos, quando ela lutava para encontrar um especialista para tratar a doença.
“Eu me arrumo muito, eu adoro. Autoestima é tudo”, disse Kemilly, que tem 12 anos, ao g1.
O tempo passou, mas a simplicidade e o sentimento de gratidão pela ajuda recebida permaneceram. Já no primeiro contato por telefone com o pai de Kemilly, Antônio de Souza, se dispôs a mostrar como a filha está hoje.
O g1 acompanhou Kemilly quando a família se mudou de Augustinópolis, no Tocantins, para Goiânia no início do tratamento. Agora, 10 anos depois, o g1 visitou a casa da menina para conversar com ela e os pais.
O encontro, inicialmente, aconteceu no comércio da família, que é um dos lugares favoritos de Kemilly. Gravador na mesa e sem muitas perguntas, a mãe da menina, a Patrícia Batista Pereira conta uma história de encher os olhos de lágrimas e que serve de exemplo de superação, força, confiança e, principalmente, cheia de autoestima, pois, como a própria Kemilly diz: “autoestima é tudo”.
Bullying e preconceito
A mãe de Kemilly relembra que a família, que antes morava em Augustinópolis, no Tocantins, veio para Goiânia para buscar um tratamento para a filha, que tem hipertricose. “Nós passamos por vários especialistas e não resolveu o problema”, afirma. Patrícia conta que a família sofreu nos primeiros anos de vida da única filha do casal devido ao preconceito.
“No passado, a gente sofreu muito. Nós íamos em festinhas de aniversário e voltávamos para casa, pois tinha algumas mães que não aceitavam. Nós sofremos muito preconceito, muito, muito mesmo”, lembra.
A própria Kemilly conta que também sofreu muito bullying nas creches onde estudou quando pequena devido a quantidade de pelos. “Ela passou por uma fase de muita insegurança. Chegava em casa e perguntava: ‘mãe, você é minha amiga?’. Isso nos doía muito. Ela não sentia aquele amor e carinho dos colegas e ficava muito insegura”, lamenta Patrícia.
Kemilly Vitória nasceu com o corpo coberto de pelos e pais buscam tratamento — Foto: Fernanda Borges/G1
Tratamento
Kemilly começou o tratamento em dezembro de 2013, no Hospital Materno Infantil (HMI), com o cirurgião pediatra Zacharias Calil. Patrícia e Antônio dizem que são muito gratos pelo acolhimento do médico, que deu início às sessões de laser para acabar com os pelos. Hoje, Kemilly realiza o procedimento com a biomédica e esteticista, Elizabeth Teles.
O que antes era feito a cada 15 dias, atualmente, acontece mensalmente. Questionada se o tratamento é doloroso, Kemilly tem a resposta na ponta da língua: “Dói, mas prefiro o resultado”, disse. Patrícia afirma que existem partes do corpo da filha que não nascem mais pelos e que são feitas manutenções. A família diz que ainda não tem um prazo para o tratamento acabar.
Kemilly se diverte com o pai após sessão de laserterapia no HMI — Foto: Vitor Santana/G1
A biomédica Elizabeth, responsável pelo tratamento, explica que a tendência é que as manutenções ocorram com menor frequência, como por exemplo, a cada seis meses. Ela diz que, como qualquer outra pessoa, os pelos não vão parar de crescer e que, possivelmente, o tratamento será pela vida toda, principalmente na região do rosto onde é mais sensível.
“A evolução dela é muito grande, graças a Deus, mas o laser não é definitivo, pois depende muito da taxa hormonal da paciente. No caso da Kemilly, é uma doença que nós estamos tratando, o que é muito importante para a autoestima dela”, diz.
Além do tratamento para acabar com os pelos, a mãe de Kemilly explica que a filha também realiza um acompanhamento psicopedagogo para auxiliar no desenvolvimento escolar. “Isso foi muito importante para a vida dela, pois a ajudou a tirar os bloqueios que ela tinha devido ao bullying e que a impedia de desenvolver na escola”, comemora Patrícia.
Kemilly Vitória Pereira de Souza, 5, tem uma doença genética e nasceu com corpo coberto de pelos — Foto: Fernanda Borges/G1
Superação
A família comemora o resultado do tratamento e, principalmente, como Kemilly enfrentou todo o preconceito e se tornou uma menina segura de si mesma. “Ela é muito vaidosa, gosta de fazer a sobrancelha e fazer as unhas”, conta Patrícia. Kemilly conta que gosta muito de se arrumar para ir para a escola e ir em aniversários, pois, segunda ela, “autoestima é tudo”.
Kemilly, que hoje estuda no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE) da Universidade Federal de Goiás (UFG), diz que não sofre mais bullying por causa dos pelos. “O preconceito ficou para trás”, afirma. Ela divide a rotina da escola e do tratamento com uma “vida de blogueira”, em que ela produz vídeos divulgando os cosméticos que a mãe vende e posta nos status do WhatsApp.
“Ela manda bom dia para as cliente sempre com frases de iniciativa e de motivação. Ela se maquia, faz os vídeos dos produtos e posta nas redes sociais. Ela sempre me ajuda com o marketing dos produtos”, diz Patrícia.
Kemilly Vitória produz vídeos para ajudar mãe a vender cosméticos
Fonte: G1