Tetraplégico move braços e pernas após 4 anos com equipamento controlado pela mente
Mais um caso bem sucedido de biotecnologia: um homem que ficou tetraplégico em 2015 já consegue mover os quatro membros paralisados com o auxílio de um exoesqueleto controlado pela sua própria… mente. Identificado apenas como Thibault, de 30 anos, ele diz que seus primeiros passos com o equipamento francês o fizeram se sentir como o “primeiro homem na Lua”.
Os movimentos do exoesqueleto estão longe da naturalidade da locomoção humana e, por enquanto, a tecnologia é usada somente em laboratório. No entanto, o grupo de pesquisadores da Universidade de Grenoble e da Clinatec, responsáveis pelos testes, afirmam que a descoberta pode melhorar a vida de milhares de pessoas ao redor do mundo, quando a criação estiver aprimorada. O estudo em questão foi publicado na revista Lancet Neurology.
Como o exoesqueleto funciona?
Thibault foi submetido a uma cirurgia, na qual foram colocados dois implantes na superfície de seu cérebro, cobrindo partes do órgão responsáveis pelo movimento. Em cada um dos implantes, há 64 eletrodos instalados para ler sua atividade cerebral e direcionar as instruções dos impulsos nervosos para um computador, localizado próximo ao paciente.
As ondas cerebrais do jovem são lidas por um programa de computador e transformadas em instruções para controlar o exoesqueleto. Então, apenas o ato de pensar em andar, por exemplo, dispara uma série de instruções que levam o aparelho a mover as pernas. Da mesma forma, o aparelho permite que o paciente controle seus braços, com movimentos nas três dimensões espaciais.
Processo de adaptação
Thibault ficou tetraplégico após cair de uma altura de 15 metros, quatro anos atrás. O trauma lesionou sua medula espinhal, o que o fez passar os dois anos seguintes no hospital. Em 2017, Thibault foi recrutado para os testes com o exoesqueleto, fruto de parceria entre a Clinatec e a Universidade de Grenoble. Inicialmente, treinava usando os implantes do cérebro para controlar um personagem no computador, como se fosse o avatar de um jogo digital. Somente na etapa seguinte, vestiu o exoesqueleto e passou a realizar testes reais.
Desafios do exoesqueleto
O jovem paciente foi bem-sucedido em 71% das tentativas de tocar objetos específicos usando o exoesqueleto para mover o antebraço e girar os punhos — mas tudo isso a um peso extra muito grande: 65 kg de robótica não restauram completamente as funções de locomoção do corpo humano, muito menos com naturalidade.
Apesar disso, a invenção traz um avanço significativo em meio a abordagens científicas semelhantes nesse campo, que permite controlar um membro separadamente com seus pensamentos.
A esta altura, Thibault ainda precisa ser conectado a um cabo no teto para minimizar o risco de ele cair com o exoesqueleto, o que significa que o dispositivo, até o momento, não está pronto para sair do laboratório. “Ainda estamos longe de uma caminhada autônoma”, afirma Alim-Louis Benabid, presidente conselho-executivo da Clinatec.
Quais são os próximos passos?
No momento, há limitações sobre o volume de dados que pode ser lido pelo cérebro e enviado ao computador, para ser interpretado e enviado novamente ao exoesqueleto em tempo real. Esse processo demanda 350 milisegundos para cada movimento.
Então, há mais potencial para fazer a leitura dos impulsos cerebrais de modo mais detalhado, usando computadores mais poderosos e IA para interpretar as informações do cérebro, e os pesquisadores estão focados nisso. Há planos também para desenvolver o controle dos dedos, que permitiriam Thibault pegar e mover objetos com mais precisão.
Há mais cientistas pesquisando maneiras de usar exoesqueletos para ampliar as habilidades dos homens, para além de superar paralisia, em um campo da ciência conhecido como transhumanismo, o que inclui o uso militar desses dispositivos.
Fonte: Canal Tech