7 fatos sobre reinfecção pela Covid-19

7 fatos sobre reinfecção pela Covid-19

Especialistas explicam quais são os riscos e a gravidade de novas infecções pelo novo coronavírus

Nesta quinta-feira (15), o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM), testou positivo para Covid-19. Em maio de 2020, Paes já havia sido diagnosticado com a doença e permaneceu assintomático durante todo o período de quarentena.

O primeiro caso de uma segunda infecção pela Covid-19 no Brasil foi confirmado laboratorialmente em dezembro de 2020, pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Uma profissional de saúde, de Natal, no Rio Grande do Norte, apresentou diagnóstico positivo em amostras coletadas em 23 de junho e 13 de outubro. O sequenciamento genético do material revelou que as duas infecções foram causadas por linhagens diferentes do vírus: B.1.1.33, em junho, e B.1.1.28, em outubro.

Para que um caso de reinfecção seja confirmado laboratorialmente, é necessário que sejam seguidos procedimentos do protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde. O documento esclarece que o paciente precisa ter dois resultados positivos, verificados por meio da técnica de diagnóstico molecular (RT-PCR), com intervalo igual ou superior a 90 dias entre os dois momentos da infecção, independentemente da condição clínica.

Especialistas consultados pela CNN ajudam a explicar o que já se sabe sobre o assunto.

1-Risco de reinfecção é incerto

A reinfecção pelo novo coronavírus é possível e já foi comprovada cientificamente. No entanto, o risco de reinfecção ainda é incerto.

Em um artigo publicado na revista Lancet, os pesquisadores Daniel Altmann e Rosemary Boyton, da Imperial College de Londres, ressaltam que, apesar dos avanços na coleta de dados e análises da Covid-19, o cálculo do risco de reinfecção ainda é algo bastante complexo.

Segundo o artigo, a maioria dos indivíduos infectados durante a primeira onda da pandemia não foi diagnosticada com o teste molecular (RT-PCR) ou sorológico. Em geral, a maior parte das pessoas também não foi internada ou tratada em hospitais, o que abre uma lacuna nos registros dos bancos de dados.

Outra dificuldade apontada pelos pesquisadores é a exigência das revistas científicas de evidências específicas para relatos formais de reinfecção, levando a uma provável subnotificação.

Para o infectologista e professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Rodrigo Molina, as variantes da Covid-19 elevaram o risco de reinfecção. “Temos cepas que apresentam maior capacidade de transmissibilidade circulando em todo o país, principalmente a P.1 [de Manaus]. Como elas são transmitidas com muito mais facilidade, há um risco maior de que quem já teve a infecção possa adquirir novamente”, afirma.

O especialista ressalta que, como a vacinação ainda não chegou para a maior parte da população, o risco de reinfecção ainda é alto.

2- Sintomas podem ser mais fortes na reinfecção

Um estudo conduzido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostrou que a segunda infecção por Covid-19 pode provocar sintomas mais fortes que a primeira. Os cientistas acompanharam semanalmente um grupo de 30 pessoas, entre março e dezembro de 2020, verificando, independente de quaisquer sintomas, a presença do SARS-CoV-2 por diagnóstico molecular.

Do grupo analisado, quatro participantes testaram positivo, apresentando sintomas brandos na primeira infecção. Na segunda, os sintomas foram mais frequentes e mais fortes, incluindo febre e tosse, junto com fadiga, dor de cabeça, dor no corpo, perda do olfato e do paladar. Apesar disso, nenhum participante foi hospitalizado.

O estudo mostrou que pessoas infectadas pela primeira vez com sintomas brandos ou nenhum sintoma podem não produzir uma resposta imunológica específica, ficando suscetíveis a uma segunda infecção – inclusive ocasionada pela mesma linhagem viral.  

“Existem várias razões para uma reinfecção acontecer. No estudo, demonstramos uma delas: os indivíduos tiveram Covid-19 de forma branda, com poucos sintomas ou até mesmo nenhum, e a explicação é que o controle da infecção aconteceu ao nível da resposta imune inata, deixando essas pessoas vulneráveis a uma segunda infecção”, explicou o pesquisador Thiago Moreno, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), coordenador do estudo.

A pesquisa contou com a participação de especialistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (Idor) e da empresa chinesa MGI Tech Co.

À frente do atendimento a pacientes do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em Uberaba, Minas Gerais, o infectologista Rodrigo Molina relata que os casos de reinfecção têm apresentado diferentes perfis de evolução clínica.

O especialista diz que a segunda infecção pode ser mais grave, mas isso varia muito de uma pessoa para outra. “Há pacientes que se reinfectaram e apresentaram quadros mais agressivos, e outros com quadros mais leves. Temos visto um equilíbrio entre quadros graves e quadros leves a moderados”, afirmou.

3- Quanto tempo duram os anticorpos contra a Covid-19?

Ainda não há um consenso sobre a duração e a eficácia dos anticorpos produzidos pelo organismo contra o SARS-CoV-2. Um estudo publicado no periódico Lancet Microbe, em março, trouxe novas evidências de que a duração pode variar de uma pessoa para outra. A pesquisa indica que o ritmo de diminuição dos anticorpos pode variar de poucos dias a até nove meses.

4- Alerta para interpretação dos testes de anticorpos

Segundo o infectologista Rodrigo Molina, a interpretação dos testes de anticorpos deve ser realizada com cautela. O especialista ressalta que a identificação de anticorpos não deve ser entendida como um passaporte de imunidade.

“Nenhum exame, seja de anticorpos gerais, seja de anticorpos neutralizantes, é garantido para falar se uma pessoa está protegida ou não. O resultado IgG, por exemplo, mostra apenas que em algum momento a pessoa teve contato com o vírus, não significa que a pessoa está protegida”, explicou.

Em março, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) divulgou uma nota técnica em que não recomenda a realização de sorologia para avaliar resposta imunológica às vacinas contra a Covid-19. O texto ressalta que o início da vacinação desencadeou uma grande procura espontânea de pessoas vacinadas por testes sorológicos, com o intuito de verificar o desenvolvimento de anticorpos.

Devido à complexidade envolvida na proteção contra a Covid-19, a SBIm desaconselhou a dosagem de anticorpos neutralizantes com o objetivo de se realizar uma correlação dos achados com a proteção clínica: “não se avalia a proteção desenvolvida após vacinação apenas por testes laboratoriais ‘in vitro’ através da dosagem de anticorpos neutralizantes”, diz a nota.

5- Quantas vezes uma pessoa pode se reinfectar?

Ainda em investigação. Segundo o infectologista Rodrigo Molina, os registros mostram, até o momento, que as pessoas têm sido infectadas apenas duas vezes. Ele acrescenta que, pelo tempo de duração da pandemia, ainda serão necessários estudos mais longos que permitam responder se uma pessoa poderá ser infectada mais de duas vezes, como acontece com o vírus da gripe, por exemplo.

6- Reinfecção pode ser mais comum em idosos

Um estudo do Instituto Statens Serum, da Dinamarca, publicado na revista científica Lancet, em março, apontou que as reinfecções por Covid-19 são relativamente raras e podem ser mais comuns em pessoas com mais de 65 anos. Os pesquisadores observaram, ainda, que a maioria das pessoas que teve Covid-19 parecia ter proteção contra reinfecção por cerca de seis meses.

Para chegar ao resultado, os autores do estudo realizaram a análise das taxas de reinfecção a partir dos testes de diagnósticos de cerca de 4 milhões de pessoas do país escandinavo. Eles compararam os resultados de setembro a dezembro de 2020 com os testes feitos entre março e maio do mesmo ano. A investigação revelou que das 11.068 pessoas com teste positivo durante a primeira onda de infecções, apenas 72 testaram positivo novamente na segunda alta dos casos.

7- As medidas de prevenção são as mesmas para quem já pegou Covid-19

O infectologista Rodrigo Molina enfatiza que as medidas de prevenção devem ser as mesmas tanto para quem já teve Covid-19 quanto para quem não foi infectado pelo vírus. O especialista recomenda a intensificação dos cuidados, chamando atenção especialmente para a necessidade de lavar regularmente as mãos com água e sabão, utilizar máscaras de forma correta em ambientes públicos e evitar aglomerações.

Fonte: CNN Brasil

Maria Odete

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *