‘Dendicasa’: avanço do coronavírus adapta festejos juninos no interior baiano
Municípios e cidadãos se rendem às novas e redescobrem antigas ‘formas de São João’
Ruas vazias, decoração suspensa e festas canceladas. Quem olha para as cidades do interior baiano, em pleno mês de junho, se assusta: não há clima de São João. Pelo contrário, o avanço do coronavírus tem preocupado população e autoridades, impedindo a realização das festas juninas.
Localizada a cerca de 375 quilômetros de Salvador, Senhor do Bonfim é exemplo desse anticlimax. A cidade é famosa pelo forró e pela guerra de espadas.
“Eu defendo bastante as espadas como uma manifestação cultural, mas não recomendo a prática nesse período do coronavírus. Estamos lutando para que os espadeiros fiquem em casa”, disse o antropólogo Rodrigo Wanderley, 30, conhecido como Pezão, que já foi secretário de cultura da cidade e pesquisa o tema.
A prefeitura informa que a cidade está preparando um “São João virtual”, mas não detalhou o projeto. O prefeito Carlos Brasileiro disse que há um aumento de casos de covid, mas por causa dos “diversos” testes rápidos feitos na população e pediu que os habitantes fiquem em casa nesse período.
Rua de Senhor do Bonfim onde acontece as guerras de espadas está vazia (Foto: arquivo pessoal) |
Outra cidade que não tem perspectiva de São João é Mucugê, que possui apenas nove mil habitantes, mas costuma ter 100% de ocupação hoteleira nesse período. Em 2020, essa taxa baixou para 0%. “Estamos comprometidos em não receber ninguém nesse período junino. Os habitantes da cidade também não querem festa este ano”, disse a assessoria da prefeitura municipal.
Localizada no centro da Chapada Diamantina, a 480 quilômetros de Salvador, Mucugê costumava ter casas enfeitadas, alvoradas e quadrilhas. Para esse ano, não há previsão de nada disso, segundo a prefeitura. “Os recursos estão sendo destinados ao combate ao coronavírus. Temos apenas quatro casos confirmados da doença, todos curados. Queremos continuar assim”, completou a assessoria.
No feriado antecipado de São João, a família de Renata preparou a fogueira (Foto: arquivo pessoal) |
Em Amargosa o cenário é o mesmo. “Hoje, nossa ansiedade é a de viver a festa do ano que vem”, diz a estudante Renata Sala. Localizada no Vale do Jiquiriçá, a pouco mais de 240 km de Salvador, o município é uma referência no quesito festejos juninos. A assessoria da prefeitura da cidade não informou se pretende substituir as apresentações físicas por lives. Para Renata, o jeito é adaptar: “Vamos celebrar como antigamente, com a família, dentro de casa, todos juntos”.
Com pouco mais de 100 mil habitantes, Santo Antônio de Jesus, a 190 quilômetros de Salvador, se tornou famosa pelas atrações. Em 2020, os festejos juninos serão feitos somente por artistas do município, através de lives. “Para a cidade, o prejuízo é incalculável. O São João mexe demais com a economia local. O comercio chega a declarar que as vendas no período junino são mais forte do que no Natal. Mas a prefeitura vai fornecer palco, apoio técnico e cachê de R$ 1,5 mil por apresentação. Mas só para músicos da terra”, disse Denilce Côrtes, secretária de cultura e turismo.
Fique em casa
Para você curtir o São João em sua residência, com segurança, o CORREIO vai produzir várias lives com forrozeiros. Já nessa sexta-feira (5), tem a apresentação da banda Fulô de Mandacaru. Os shows acontecerão sempre às sextas e sábados, às 19h, no link www.youtube.com/Correio24h.
No sábado (6), é a vez do cantor Del Feliz. No dia 12, Estakazero comanda o arrasta-pé, enquanto no dia 13 tem Flor Serena. Já nas vésperas do São João, no dia 19 é Zelito Miranda que se apresenta. Adelmário Coelho encerra, no dia 20.
Além de levar música, as apresentações também irão render uma corrente de solidariedade. Durante as transmissões, será possível ajudar a instituição Corrente do Bem. Um QR Code ficará fixo na tela e, ao apontar a câmera, a pessoa será direcionada para uma área, onde poderá fazer doações.
Fonte: Correio 24 horas